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date: 2014-05-20T00:00:00-05:00
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title: "Zeladores da Coerência"
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tags: [pt_br, rant, thoughts, free-software, open-source, philosophy]
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Sei que ainda estou devendo um post sobre minha participação no [FISL
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15](http://fisl.org.br), mas o tempo anda meio curto pra falar tudo o
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que eu quero. Tenho decidido falar de maneira mais “picada”, até pra não
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fazer o texto ficar muito chato. E esse post aqui é sobre um
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comportamento que vejo há algum tempo, mas que foi exacerbado por conta
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do debate sobre a suposta morte do movimento Software Livre no Brasil.
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Antes de mais nada, se quiser assistir ao debate, o link direto está
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[aqui](http://hemingway.softwarelivre.org/fisl15/high/41a/sala41a-high-201405081002.ogv).
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Também sugiro uma visita à página wiki do grupo LibrePlanet São Paulo,
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na qual você pode encontrar algumas sugestões de outras palestras
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interessantes que rolaram no evento. Você pode acessá-la [nesse
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link](http://wiki.libreplanetbr.org/Palestras_FISL_15_-_2014/).
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Mas voltando ao assunto. Meu objetivo no post não é discutir o debate em
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si; pretendo fazer isso em um post futuro. O ponto que quero discutir é
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o comportamento do que chamo de “**zeladores da coerência**”. São
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pessoas que existem em qualquer movimento social/político/filosófico, e
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não poderia deixar de existir no Software Livre. Mas curiosamente, vejo
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mais contundência naquelas pessoas que **não** defendem o Software
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Livre, do que naquelas que o fazem. Explico-me.
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O [Anahuac](http://anahuac.eu) fez alguns posts recentemente atacando a
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falta de distinção entre os movimentos Open Source e Software Livre,
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especificamente por parte daqueles que fazem parte do primeiro mas se
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dizem defensores do segundo. Posso classificar, nesse meu post, o
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Anahuac como sendo um zelador da coerência, apesar de ele mesmo admitir
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algumas incoerências no seu comportamento, como o uso do Twitter. E,
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apesar de nem sempre concordar com o tom que ele usa em seus textos,
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muitas vezes combativos e até perigosamente ácidos, concordo com a
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maioria dos pontos que ele levanta nos dois artigos que mencionei. Se
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quiser lê-los, o primeiro é [esse aqui](http://www.anahuac.eu/?p=371), e
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o segundo [tá nesse link](http://www.anahuac.eu/?p=375). Há bastante
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tempo, publiquei minhas opiniões (em inglês) sobre esse mesmo assunto,
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[nesse post aqui]({filename}/2012-12-17-misunderstanding-free-software.md).
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Pois bem, como o Anahuac não tem problema em levar pedradas, ele postou
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ambos os textos no site BR-[GNU/]Linux, notadamente um reduto Open
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Source brasileiro. Parei de ler o site há bastante tempo, por conta de
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diferenças de opinião com o conteúdo publicado, e principalmente por
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notar sempre um tom irônico e parcial travestido de uma suposta “isenção
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aos fatos” nos comentários que o autor do site faz sobre as notícias. No
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entanto, o próprio Anahuac fez questão de trazer à minha atenção a
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repercussão que os textos estavam tendo, e pediu-me pra ler os
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comentários do post no BR-[GNU/]Linux. Vale mencionar que o site
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utilizar o [Disqus](https://en.wikipedia.org/wiki/Disqus) para oferecer
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um sistema de comentários, um serviço que não respeita a privacidade dos
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seus usuários e realiza tracking das atividades dos mesmos. Como não
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possuo uma conta lá, e utilizo alguns plug-ins para não executar código
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Javascript não-autorizado no meu navegador, acabei tendo um pouco de
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trabalho pra conseguir ler os comentários de forma mais ou menos
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anônima. Mas no fim, consegui. E o que vi, apesar de ser “mais do
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mesmo”, me deixou bem pensativo.
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Não esperava uma reação diferente de parte da comunidade. Como disse, os
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textos do Anahuac são feitos pra “tocar na ferida” de uma forma às vezes
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brusca, e que desagrada muita gente. Vários comentários eram [ad
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hominem](https://en.wikipedia.org/wiki/Ad_hominem), e nem merecem
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menção. Mas o que me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas
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apontando incoerências (supostas ou verídicas) que o Anahuac comete, e
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retirando dele o direito de apontar qualquer tipo de incoerência na
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própria comunidade da qual faz parte. E aí fico pensando, será que nós
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mesmos, ativistas do Software Livre, não estamos colhendo o que
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plantamos?
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Não consigo deixar de falar da minha experiência. Sempre tentei basear
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meus atos e opiniões em cima da minha própria coerência. Sei que é
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difícil, e, apesar de muitas vezes (pré)julgar alguém por uma
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incoerência cometida, tento sempre lembrar que eu mesmo já usei Gmail e
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Twitter para criticar o Software Livre. Obviamente que, na época, eu não
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tinha tanto conhecimento a respeito dos perigos de se usar essas
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ferramentas, mas mesmo assim nada impedia (como, de fato, não impediu!)
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que alguém chegasse e me acusasse de incoerência. Já, inclusive,
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condenei o uso do Facebook para divulgar um ex-grupo de Software Livre
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do qual fazia parte, e recebi como resposta um “conselho” (não muito
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educado) dizendo que, se eu quisesse usar apenas Software Livre, deveria
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parar de usar computador, já que independente da máquina eu ia ter que
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usar algo proprietário. Isso foi proferido por um dos fundadores do tal
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grupo, um rapaz muito famoso pela falta de educação, mas que, há
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bastante tempo atrás, acreditava nos mesmos ideais que eu.
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É muito difícil rebater um argumento desse tipo. Aliás, é muito difícil
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rebater um dedo apontado na sua cara mostrando alguma incoerência que
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você comete, e que está lá como uma resposta a uma acusação sua de uma
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outra incoerência. Algumas pessoas tendem a se defender justificando
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seus erros através dos erros dos outros, e quando elas podem usar o
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próprio “acusador” como um exemplo, melhor ainda (pra elas)! É isso que
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está havendo, e é essa maré desses zeladores da coerência alheia que me
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preocupa um pouco. Afinal, **sempre** vai ser possível encontrar
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incoerências em qualquer pessoa.
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Não sei direito onde quero chegar com esse texto, mas acho que uma coisa
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está ficando um pouco clara na minha cabeça, ou pelo menos eu estou
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começando a ver um lado diferente da história toda. Apontar
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incoerências, por mais evidentes que elas estejam aos nossos olhos, pode
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não ser a melhor forma de conseguirmos explicar nossos ideais. Pode
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parecer óbvio (e talvez seja), mas ninguém gosta de ser colocado contra
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a parede, e pouquíssimas pessoas têm a coragem necessária pra assumir
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publicamente um erro. Talvez o caminho para a cabeça e o coração das
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pessoas seja outro. Durante o debate no FISL, o
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[Fred](http://teia.bio.br/blog/) falou algo que tem estado na minha
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mente com cada vez mais frequência. Pode parecer piegas, mas nós
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precisamos de mais amor ao próximo, até para podermos entender que nós,
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também, já estivemos do lado de lá. O Software Livre, como movimento
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social, político e filosófico que é, vai florescer cada vez mais quando
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cada ativista olhar pra si mesmo e reconhecer, mesmo que com
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dificuldade, aquele a quem espera passar um pouco do seu ideal.
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É difícil, mas é necessário.
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