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date: 2013-09-23T00:00:00-05:00
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title: "Reflexões de um ativista -- Parte 01"
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tags: [pt_br, portugues, thoughts, fedora-planet, free-software]
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Nesse último fim de semana, durante os dias 20 e 21 de Setembro
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(sexta-feira e sábado, respectivamente), ocorreram dois eventos sobre
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Software Livre na UNICAMP. Um deles, o
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[Upstream](http://upstream.net.br), foi um "evento teste" que ajudei a
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organizar junto com o [Cascardo](http://cascardo.info) e o Leonardo
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Garcia, ambos do LTC/IBM. O outro, o [Software Freedom
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Day](http://libreplanet.org/wiki/LP-BR-SP/Eventos/SFD_Campinas_2013)
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(SFD), eu organizei em nome do [LibrePlanet São
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Paulo](http://sp.libreplanetbr.org). Durante os dois eventos (e
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principalmente durante o SFD) eu fiquei pensando e refletindo bastante
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sobre vários assuntos relacionados (ou não) com o Software Livre.
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Resolvi, então, aproveitar a oportunidade e escrever um pouco sobre
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essas opiniões.
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Antes, um breve relato dos dois eventos. Gostei parcialmente do
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resultado que obtivemos com o Upstream. Acho que a qualidade dos
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palestrantes foi ótima, e as discussões tiveram um nível muito bom. No
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entanto, os workshops deixaram a desejar. Pelo pouco que pensei a
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respeito, cheguei à conclusão de que faltou organização para definirmos
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os assuntos que iriam ser abordados, e principalmente o melhor modo de
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abordá-los. Assumo minha parcela de culpa nisso, afinal eu tentei ajudar
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na organização do workshop de toolchain e ele não saiu do modo como
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esperávamos. Problemas na infra-estrutura do local também atrapalharam
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no resultado final. Mas, de modo geral, e levando em conta que essa foi
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a primeira edição do evento, acho que conseguimos nos sair razoavelmente
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bem. Certamente já temos muitas coisas pra pensar e melhorar para a
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próxima edição!
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Já sobre o SFD, apesar de várias pessoas muito boas terem participado do
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evento, a minha impressão inicial (e forte) foi a de que fazer a
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sociedade se interessar (ou ao menos ouvir, se bem que os dois conceitos
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são intrinsecamente ligados) por assuntos que são de suma importância
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para a manutenção (ou, no caso, a restauração) de um Estado que a
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respeite é mais difícil do que eu pensava. E essa é também a primeira
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reflexão do post.
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Indignação x Ignorância
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Há um conflito muito grande acontecendo com as pessoas. Provavelmente
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ele não é "de hoje", mas de qualquer modo ele existe e precisa ser
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resolvido. O conflito, do modo que vejo, pode ser resumido da seguinte
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forma: "*até que ponto eu quero sentir indignação sobre um assunto, de
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modo que eu não precise necessariamente tomar alguma atitude sobre
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ele?*". Ou seja, a pessoa opta voluntariamente por permanecer na
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ignorância parcial, para que ela não se sinta obrigada a tomar uma
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posição sobre determinado problema que a atinge.
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Tomemos o exemplo do Facebook. Alguém que tenha uma conta lá (i.e.,
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"quase todo mundo") prefere se manter na ignorância sobre os termos de
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serviço e privacidade que o site possui. Não estou entrando no mérito de
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operações clandestinas de espionagem; estou falando sobre os textos
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disponíveis no site do Facebook e que explicam (talvez não de maneira
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muito clara, mas isso já é outro problema) o que o site faz e não faz a
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respeito dos seus dados. É uma opção. É mais fácil apenas usar o site,
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compartilhar imagens engraçadas com seus mil "amigos", e não olhar para
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uma questão que deveria ser muito mais importante do que qualquer "like"
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que possa ser dado.
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Não sou sociólogo e estou longe de poder dar opiniões acadêmicas sobre
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esse assunto, mas tenho a impressão de que o que acontece é um "retardo
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social" na maioria dos cidadãos deste planeta. Não deixa de ser um
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paradoxo o fato de que esse comportamento é exacerbado através de uma
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"rede social", que se traveste de facilitadora de comunicações entre
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indivíduos para poder exercer a derradeira função de uma empresa: ganhar
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dinheiro. É importante frisar que não sou contra "ganhar dinheiro", mas
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sou contra vários meios que são usados pra atingir esse objetivo.
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No final, o produto somos nós, ou nossa privacidade. E quando eu digo
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"nós" ao invés de "eles", é porque eu fiz uma outra reflexão...
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Privacidade é um "bem" coletivo
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Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas pare e pense um pouco. A
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privacidade é sim um direito do indivíduo, mas quando você opta por não
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tê-la, você está fazendo essa opção em nome de todas as pessoas que se
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comunicam com você. Afinal, se você não se importa se alguém está lendo
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suas mensagens, então qualquer tipo de comunicação que chega até você
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pode e vai ser lida. E se essa comunicação partir de alguém que preza
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pela própria privacidade, não vai fazer diferença alguma: a mensagem
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será lida de qualquer jeito, porque *você* escolheu isso.
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Estou acostumado a ouvir pessoas dizerem que elas não são tão
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importantes a ponto de despertarem interesse em algum governo para que
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ele queira espioná-las. "Portanto", dizem as pessoas, "não preciso me
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preocupar". Bem, acho que esse argumento não invalida de maneira alguma
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o fato de que proteger a própria privacidade é importante. Não interessa
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o quão público alguém é; se ele não preza pela sua privacidade, ele está
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abrindo mão de algo que afeta direta ou indiretamente várias pessoas.
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O meu ponto aqui é simples. Faça a sua parte e proteja a sua
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privacidade. Ninguém vai fazer isso por você, mas todos precisam e podem
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fazer suas respectivas partes. É um trabalho em conjunto, mas que
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depende da cooperação de todos. Se alguém perto de você não se importar,
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você provavelmente vai ser prejudicado.
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