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date: 2014-02-18T00:00:00-05:00
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title: "A Droga do Crédito"
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tags: [pt_br, portugues, free-software, thoughts]
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É uma droga querer crédito por algo. Alguns dizem que é seu direito,
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dado que você efetivamente tenha feito aquilo pelo qual está pedindo
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crédito; por outro lado, pessoas com almas supostamente mais evoluídas
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nos ensinam que o prazer em se fazer algo está contido no ato de
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fazê-lo, e não no crédito que nos é dado após a realização da tarefa.
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Quem está certo? O que funciona pra você?
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O movimento de Software Livre, visto por um ângulo um pouco
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não-ortodoxo, funciona na base do "dar e receber". Você contribui com
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tempo, dedicação, código, relatórios de problemas, correções, arte,
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texto, e no fim espera, mesmo que inconscientemente, receber crédito
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pelo esforço colocado no projeto. Não há nada de errado nisso, e, se o
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crédito for realmente merecido (o que é uma outra reflexão por vezes
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dificílima de ser feita!), nada mais justo do que dá-lo.
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Por outro lado, é interessante analisar o que ocorre quando o devido
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crédito não é dado. Sem entrar no mérito do porquê isso aconteceu
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(relapso, esquecimento, má fé), a pessoa que devia receber esse crédito,
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mesmo que não o estivesse conscientemente esperando, sofre um abalo ---
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irreversível, por vezes --- na vontade de continuar dedicando seu tempo
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a determinada tarefa. Pode parecer óbvio, mas é preciso olhar para isso
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com cuidado. O movimento de Software Livre é composto não somente por
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funcionários de empresas interessadas (financeiramente) no sucesso de
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determinado software, mas também (e principalmente) por voluntários.
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E onde eu entro nisso tudo? Contribuo com Softwares Livres há bastante
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tempo, e já passei pelas duas situações: fui agraciado com o devido
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reconhecimento, e fui "esquecido" depois de me esforçar por alguma
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coisa. Felizmente, na esmagadora maioria dos casos o devido crédito
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foi-me dado, e não tenho do que reclamar. Mas recentemente passei pelo
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caso inverso, e senti na pele, mais uma vez, como é ruim não ser
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lembrado pelo trabalho que realizei, mesmo que isso tenha ocorrido por
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falta de comunicação e sem nenhuma maldade envolvida.
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Tentei, com algum esforço, me colocar na posição de observador, e deixar
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o papel de "vítima" um pouco de lado. É uma situação muito complicada, e
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por qualquer ponto que eu tente olhar, não consigo ver uma solução
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diferente daquela que, de modo egoísta, elegi como a melhor para mim.
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Sei o quanto me esforcei para conseguir colocar em movimento uma
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engrenagem nem sempre fácil de funcionar, que é a de um grupo de apoio
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ao movimento de Software Livre. Talvez você se lembre do
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[anúncio de fundação do grupo]({filename}/2012-12-15-criacao-libreplanet-sao-paulo.md), há mais de 1 ano
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atrás. E agora, depois de ter feito muita coisa pelo grupo, senti falta
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de ter um reconhecimento de alguém que considero bastante. Sei que, numa
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análise mais cuidadosa, a culpada disso foi a falta de comunicação. Mas
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às vezes não consigo deixar de pensar em como seria bom ter tido um
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pouco do gostinho de "fiz minha parte, e aquele cara reconhece isso!".
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Enfim, coisas da vida. Esse post ia ficar bem maior, mas decidi cortar
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mais da metade dele porque não quero ficar no "chororô". O que importa,
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no final das contas, é o quanto **você** acha que está fazendo a coisa
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certa. No fim do dia, é você quem vai dormir tranquilo, sabendo que se
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esforçou bastante e que nada do que fez foi em vão. O resto, se vem ou
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não, é um complemento àquilo que você fez.
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