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date: 2013-11-14T00:00:00-05:00
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title: "Reflexões de um ativista -- Parte 02"
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tags: [pt_br, thoughts, fedora-planet, free-software]
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Ainda não sei se estou preparado pra enfrentar a segunda parte dessa
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"série", mas também não adianta fugir... O que eu sei é que essas
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reflexões podem não ser condizentes com a realidade (ou com a **sua**
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realidade), e que talvez eu esteja exagerando (ou aliviando) nas minhas
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observações, mas em todo caso eu espero que seja possível para você,
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querido leitor, traçar alguns paralelos com o seu modo de ver o mundo,
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e, quem sabe, mudar algo na sua região.
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Preguiça
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Este ponto relaciona-se mutuamente com os outros dois pontos (que também
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relacionam-se mutuamente entre si). É claro, tudo está conectado nesse
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mundo, até mesmo (e principalmente!) os motivos que levam alguém a se
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**des**conectar de alguns valores morais e éticos.
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Eu vejo pessoas preguiçosas o tempo todo. Às vezes, sou uma delas (por
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mais que tente me afastar desse comportamento). Mas creio que existe uma
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diferença entre alguém inerentemente preguiçoso, e alguém que se deixa
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levar pela tentação da preguiça por conta de algum outro fator. A minha
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reclamação, aqui, é com o primeiro tipo de pessoas.
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O "teste" pra saber se você se encaixa nesse grupo é: quando você se
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depara com algum problema difícil de ser resolvido, qual seu *modus
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operandi*? Buscar soluções, ou desistir? Tentar você mesmo, ou pedir pra
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alguém? Aprender com seus erros, ou repetí-los *ad eternum*? Se você não
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quis nem pensar sobre esse teste, então acho a resposta é óbvia...
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Mas o que isso tem a ver com ativismo? Tudo. Ser ativista é, por
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definição, ter que enfrentar situações difíceis e desanimadoras,
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platéias apáticas e desconfiadas, pessoas descrentes e alienadas. E isso
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tudo é absurdamente frustrante, principalmente quando você acredita
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naquilo que está falando, e sabe que as pessoas que estão ouvindo
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**precisam** entender também! Afinal, como eu falei em outro post, a
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privacidade (mas não só ela!) é um bem coletivo. A manutenção dela
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**depende** da compreensão da comunidade sendo espionada.
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Em outras palavras, as empresas, entidades e governos que estão lutando
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para que você tenha cada vez menos direitos não dormem no ponto. Não vai
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ser muito legal se nós dormirmos...
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Só que esse ponto não se aplica somente aos ativistas em si. Obviamente,
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encontramos (muitos!) preguiçosos (e preguiçosas) do outro lado, na
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platéia. É sempre bom (e necessário) assumir que as pessoas pra quem
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você está falando são ignorantes naquele assunto, e portanto precisam
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ser instruídas minimamente para que possam tomar decisões maduras e
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inteligentes. No entanto, mesmo **depois** de serem alertadas sobre
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vários fatos e consequências dos seus atos, as pessoas **ainda assim**
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preferem continuar na ignorância!! Existem vários nomes pra essa
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"teimosia", mas eu costumo achar que um dos fatores que contribui pra
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isso é a preguiça.
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Preguiça em levantar da cadeira e procurar soluções que respeitem você e
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sua comunidade. Preguiça em continuar pensando (ou seja, "sempre
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alerta") sobre quais os riscos você está efetivamente correndo quando
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usa aquela "rede social". Preguiça em mudar os hábitos. Preguiça em
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lutar por seus direitos virtuais. Enfim, preguiça.
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Preconceito
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Esse é um dos pontos mais problemáticos. O preconceito está enraizado
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nas pessoas, sem exceção. E o preconceito contra ativistas, de qualquer
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tipo, é evidente.
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Ser ativista não é somente acreditar em algo. Ser ativista é
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principalmente **saber** de algo, e querer levar essa sabedoria para as
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pessoas. Obviamente, existem vários tipos de ativismo, mas quando olho
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pro que eu faço, eu me vejo mais como alguém que sente ser sua obrigação
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ensinar as pessoas sobre algo que é desconhecido da maioria. Apesar de
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realmente esperar que as pessoas acreditem nos valores que eu tento
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passar (e quem não espera?), acredito que meu objetivo principal seja o
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de "habilitar" a sociedade a tomar decisões conscientes sobre os
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assuntos que tento "ensinar".
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Algumas pessoas têm medo ou vergonha de me falar que usam Facebook,
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Twitter, ou algum software não-livre. Mas eu noto que, na maior parte
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dos casos, o medo delas decorre do fato de elas saberem que eu não
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"gosto" de nenhum desses itens, e não do fato de elas saberem **por
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que** eu não gosto deles. E nesse caso, eu não sinto raiva ou decepção
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pela pessoa com quem estou conversando, mas sim uma necessidade de
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realmente **explicar** o motivo de eu não concordar com a utilização
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desses programas! Sei que se eu explicar, na verdade eu estarei dando
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ferramentas pra que a pessoa consiga, ela mesma, decidir se quer
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continuar usando-os. Essa é minha tarefa, no final das contas. Permitir
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que o usuário de tecnologia consiga, de forma consciente e ética,
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escolher o que quer e o que não quer. Mas aí entra o preconceito...
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Quando começo a falar, é inevitável usar expressões como "liberdade",
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"respeito", "ética", "comunidade", "privacidade", "questões sociais",
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etc. Elas são o cimento pra que eu possa construir meus argumentos, e
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não creio que palavras ou expressões por si só possam definir um liberal
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de um conservador, por exemplo. No entanto, o que mais vejo são pessoas
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que confundem ativistas de Software Livre com comunistas ou socialistas.
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E como hoje a moda é o conservadorismo, às vezes as pessoas ignoram tudo
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aquilo que falamos por conta desse preconceito idiota.
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Meu objetivo não é discutir sobre se é bom ou ruim ser
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socialista/comunista (apesar de eu definitivamente não ser
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"conservador", e achar esse preconceito absurdo). Mas o que deve ficar
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claro é que o Software Livre, apesar de ser um movimento político, **não
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é** um movimento partidário. Defendemos valores bem definidos, que podem
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ou não ter a ver com idéias comunistas/socialistas, mas que não advogam
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a favor desse movimento político. Também é importante mencionar que, por
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ser um movimento social, é natural que muitas idéias e preceitos
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defendidos pelos ativistas de Software Livre sejam simpáticos à causa
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socialista/comunista. Mas isso obviamente não faz com que Stallman seja
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o novo Stalin (apesar da semelhança dos sobrenomes).
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Enfim, o meu pedido para a comunidade em geral é: ouçam a mensagem,
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independente do interlocutor, e pensem a respeito, independente da sua
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orientação político-partidária. Aquilo pelo qual lutamos independe de
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partido, religião, time de futebol, nacionalidade. Depende simplesmente
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de seres humanos, de uma comunidade que não tem fronteiras, não tem uma
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única cultura, mas que merece mais respeito. Só que, infelizmente, vamos
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ter que exigir isso.
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